11 de setembro de 2016

A minha história com os tapa-mamas.

Sempre me senti bem com o meu corpo. Claro que tenho os meus momentos deprimentes e que critico isto ou aquilo, mas no geral sempre me senti bem comigo mesma.
Sempre fui a mais gorda no meu grupo de amigos, mas nunca senti que isso impedisse algo. Hoje, na brincadeira, digo que era uma pequena bola de berlim. Os meus amigos nunca - e quando digo nunca estou a ser sincera - gozaram comigo, aliás era raro ser a última a ser escolhida para a equipa em Educação Física. 
O tempo foi passando e a adolescência chegou, crescia cada vez menos para os lados e mais para cima, a era da bola de berlim estava a ficar para trás. E então, sem ninguém esperar, chegou a fase "Eu uso soutien e vocês não". Comecei a usar esses pequenos demónios antes de qualquer amiga, sentia-me tão adulta e feliz, mas tudo deixou de ter tanta graça quando os soutiens da minha irmã me deixaram de servir. Como era possível as minhas amigas usarem um pedaço de tecido e eu já ter soutiens das lojas para crescidas? Elas tinham a Pantera Cor de Rosa, as Powerpuff Girls e outros bonecos divertidos e eu tinha rendas e lacinhos sedutores, algo não estava bem comigo. Vocês devem estar a pensar "É agora que ela fala do gozo que levou e da maneira como as crianças são cruéis." Mentira. Não se passou  nada disso, como sempre os meus amigos tomaram esta evolução como normal. Mais uma vez nunca gozaram comigo ou brincaram com o tema, era um assunto sensível para mim e eles sempre me respeitaram.Contudo os complexos existiam na mesma, foi um longo processo de aceitação, mas sempre vivi com isso. Com alguns dramas e algum choro a situação ultrapassou-se. 
Eu parei de crescer, mas o meu peito não. A Intimissimi deixou de servir, a OYSHO nunca teve os tamanhos certos e a Women Secret também já estava a esgotar as opções. Entretanto só a Triumph passou a ser a opção segura e sempre nos tamanhos redutores. Agora que finalmente gostava das rendas já não havia opções disponíveis. Aquele vestido era o que mais gostava, mas não servia. Aquele top servia no peito, mas depois parecia grávida de alguns meses. Ir às compras deixou de ser um prazer e passou a ser um filme - ora era uma tragédia, ora uma boa comédia.  
Mas vivi, sempre vivi feliz e contente (exceto quando chegava a casa e criava dramas na minha cabeça). Não deixei de sair com os meus amigos, não deixei de usar roupa decotada e muito menos deixei de ir à piscina, aliás os meus verões eram passados na piscina com o pessoal da minha idade. Sempre usei bikini - esse é outro grande drama da minha vida. Só há uma loja "comum" que tem tamanho para mim, a Calzedonia, porém só existe um modelo que serve. Após esta explicação imaginem a frase que ouvi algumas vezes... "Esse bikini é giro, a minha mãe tem um igual." Badumtsss! Não me deixei abalar porque era a única hipótese -gira- que tinha para usar no verão. E, para mim, verão é piscina. 
Vocês podem dizer "Ah e tal, mas tens a Dama de Copas com imensa variedade", sim é verdade. Mas eu vivo na fronteira e não decido ir à capital apenas quando tenho de comprar soutiens. Tirando isso, a Dama de Copas também é bem puxada em relação a preços e uma pessoa não vive só para segurar as mamas... Por isso, gosto muito de esperar pelas promoções que a "minha" loja tem.
Vamos então voltar à minha história de vida? Ora bem, já passámos a fase do "eu não preciso de meias no soutiens, porque tenho mesmo mamas" e já vos expliquei que adoro os meus amigos porque sempre foram o mais respeitadores possíveis. Se para muita gente os problemas acabam com o secundário, os meus não foram assim. Viver numa terra pequena tem imensos defeitos, mas pelo menos todos se conhecem. Quando fui para a universidade não conhecia ninguém, mas ia ficar a conhecer rapidamente. Das duas uma, ou o meu peito ia ser alvo de muitos comentários ou ia passar discretamente por entre a multidão. Sou uma pessoa que tem pouco de tímida e sempre falei com toda a gente - sobre tudo! Certamente já perceberam que o meu peito foi alvo de alguns olhares / curiosidade e afins. Sempre falei do assunto, finalmente ultrapassei todos os meus problemas com estes dois pedaços de mim, e expliquei que não é tão bonito quanto parece, tenho muitas dores nas costas e que o peso é terrível. Se uns respeitam e só tocam no assunto quando surge em conversa, outros não são bem assim. Há pessoas indelicadas e que, propositadamente, magoam as outras. O pior que me aconteceu não foi ter o olhar das empregadas de lojas de lingerie e dizerem "Umas com tanto, outras com tão pouco." ou experimentar um vestido lindo com a minha irmã e ser ela a usá-lo porque tem menos peito. O pior foi, aos 19 anos, ter de levar com adultos - penso que nesta idade já somos adultos - a falarem sobre o meu peito à descarada e com olhares maliciosos. 
Imagino o que vos passa na cabeça "Ah, afinal sempre sofreu de bullying." Não. Eu teria sofrido de bullying se me tivesse escondido, se tivesse deixado de usar camisolas decotadas e se tivesse deixado de ser feliz. 
O bullying só é bullying se nós deixarmos que ele seja. Esse bullying só me deu ainda mais vontade de usar decotes bonitos. É o meu corpo e eu aceito-me como sou. Tento sempre fazer o melhor por mim, mas é apenas por mim e não porque alguém acho que eu não estou bem. 
Acabei de me abrir com vocês sobre um dos assuntos mais visíveis e complexos em mim. Sou feliz e garanto-vos de uma coisa: sou uma pessoa com complexos, mas o meu maior complexo não reside no meu peito! Aceitem-se tal como são, assumam as vossas curvas ou a falta delas. Sabem que se nos sentirmos bem connosco próprias as outras pessoas acham-nos ainda mais bonitas? Ergue a cabeça e sai à rua, temos de aproveitar a vida ao máximo!
Beijinhos nas bochechas*

PS: obrigada aos meus amigos que são os melhores quando dizem "Ela fez-te isso?  Dás-lhe com uma mama que fica KO." ou então quando vamos à piscina e depois de tirar a roupa dizem com os olhos muito esbugalhados "MAS TU NÃO ÉS GORDA!". São os melhores!

3 comentários:

  1. És uma pessoa linda no exterior e no interior igualmente, lembra-te disso <3 adorei ler esta confissão, Marta!

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  2. Minha linda, adorei ler as tuas palavras. Fico muito feliz que não te tenhas deixado afectar por nada e que tenhas tido uma adolescência tão feliz! És maravilhosa, por dentro e por fora! Os adultos têm muito menos respeito e estão sempre com coisas, é horrível -.-
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